A questão é encontrar um tipo de casa que corresponda a seu estilo
Criador de um dos mais celebrados apartamentos compactos de Nova York, o seu próprio que tem 39m² e móveis transformers que dão ao imóvel diferentes configurações, o arquiteto canadense Graham Hill vê nas microunidades um estilo de vida em que o consumo e o acúmulo de coisas cedem lugar ao bem estar. Mas nem sempre foi assim. Depois de vender uma startup criada por ele por US$ 10 milhões, mas continuar à frente do negócio, o arquiteto comprou uma mansão em Seattle, cidade onde morava na época e que é hoje a líder no movimento dos microapartamentos.
Como não tinha tempo para mobiliar o imóvel, ele contratou um personal shopper para comprar tudo o que ele precisava para a casa. O profissional ia às lojas, enviava imagens por e-mail, e Hill decidia o que ia ou não comprar. Alguns anos mais tarde, quando resolveu se mudar para Nova York, o arquiteto precisou voltar a Seattle inúmeras vezes justamente para se desfazer de tudo aquilo que tinha comprado e quase não tinha aproveitado. Foi, então, que se deu conta de que era possível viver melhor com menos. E adotou o estilo de vida que hoje vende através de sua nova empresa a LifeEdited. O Morar Bem conversou com Hill por e-mail sobre o fenômeno dos microapartamentos nos Estados Unidos.
Você propõe soluções de design que ajudam a usar todo o espaço disponível num ambiente mesmo que muito pequeno. Mas, nós também estamos vendo um outro tipo de microunidades emergindo em grandes cidades como Seattle, onde o apartamento se resume a um quarto com banheiro e a cozinha e a sala de estar ficam em áreas comuns. O que você acha deste tipo de imóvel?
Acho que é bom ter opções diferentes para pessoas diferentes. Especialmente, quando eles se concentram em uma localização central, com pouco trânsito, como nos casos das microunidades de Seattle. Este tipo de imóvel pode não ser para todos - muitas pessoas vão querer uma cozinha real ou mais espaço -, mas para aqueles que precisam de acomodações básicas e um aluguel acessível, é perfeito.
Você acha que as microunidades (de qualquer tipo) são a única solução para ter casas a preços acessíveis nas grandes cidades do futuro?
Não, mas são um exemplo óbvio. Em todo o mundo, há uma migração urbana, mais pessoas estão vivendo sozinhas e há cada vez menos lugares para se viver, o que eleva os preços. As microunidades permitem que mais pessoas ocupem menos espaço. E faz isso de uma maneira que não requer necessariamente subsídios do governo, o que é uma outra solução, mas que pode ser menos confiável do que as baseadas no mercado.
Os micro são, com certeza, um grande negócio para as construtoras e incorporadoras. Mas algumas pessoas dizem que tendem a adensar ainda mais algumas áreas já muito densas. Como você vê essa questão? E quais são os desafios de uma cidade como Nova York para ter este tipo de apartamentos?
Acho que esse é um problema que gostaríamos de enfrentar. O fato é: a micro-habitação não é algo generalizado o suficiente para impactar verdadeiramente a densidade de forma significativa em qualquer cidade. Há receios de que isso aconteça em Seattle e Portland, mas ambas as cidades têm baixa densidade para os padrões urbanos globais. A crítica lá é em relação a alguns bairros específicos que poderiam não suportar a chegada de muitos novos moradores em microapartamentos. Mas pelo que eu sei, a maioria dos temores são infundados e estão centrados principalmente na falta de estacionamento desses prédios - algo que muitos dos moradores dos microapartamentos não precisa.
Nova York tem um bom transporte público e dá para se fazer o que quiser, a qualquer momento, em quase todos os bairros. No Brasil, mesmo em grandes cidades como Rio de Janeiro ou São Paulo, temos uma realidade completamente diferente... É possível viver em um microapartamento sem que a cidade ofereça infraestrutura de transporte e serviços, por exemplo?
A micro-habitação, até certo ponto, depende de ter os serviços nas proximidades: lugares onde você possa ir em vez de se esconder em sua pequena casa. E, quando as pessoas vivem mais perto de seu trabalho, de restaurantes, mercados, etc, elas podem ir andando a pé ou de bicicleta. Melhorar a infraestrutura de uma cidade, especialmente em termos de transporte público, não é uma coisa simples e existem algumas áreas onde é especialmente difícil. Assim como o Brasil, os EUA também têm problemas com grandes distâncias entre as casas e o local de trabalho. Uma das coisas que faz com que a situação tenha chegado a esse ponto é um número muito grande de casas ernormes (a casa nova média nos EUA tem mais de 230 metros quadrados). Elas ocupam mais espaço e precisam de mais terra e ficam distantes dos centros das cidades. E, porque eles estão tão longe dos serviços, as pessoas sentem, por vezes, a necessidade de torná-las maiores, criando as suas próprias comodidades privadas. Isso só perpetua o padrão e torna mais difícil a criação de sistemas de transportes públicos eficazes.
Você projetou um apartamento de 19 metros quadrados em São Paulo (o VN Quatá). É este o espaço mínimo necessário para viver em um apartamento? Ou é possível viver em um lugar menor?
Eu não acho que exista um tamanho mínimo. Há um tipo de apartamento no Japão chamado Wan Rum Manshon, que é muitas vezes menor do que nove metros quadrados. Então, as pessoas podem viver em espaços menores. O VN Quatá tem uma cozinha e um banheiro de verdade. Se substituissemos algumas amenidades, poderíamos tornar o imóvel ainda menor. Mas será que as pessoas vão querer? A questão é saber o que é importante para cada um, como cada pessoa usa o espaço e então encontrar um tipo de casa que corresponda ao seu estilo.
Fonte: ADEMI
Data: 30/06/2014